A mulher
aborreceu-se quando esbarrou na pilha de livros sobre a escrivaninha. Não
encontrando espaço em meio a tantos volumes, exclamou energicamente: - Porque
raios você quer tantos livros, se não lhe servem pra nada? Foi um soco no estômago
que me causou profundo mal-estar. Restei abatido por um sentimento de tristeza
e desgraça. Aos prantos, as palavras doeram, e mesmo enfraquecido, reuni forças
para decretar: é o fim. Juntei as centenas de livros em duas grandes caixas de
papelão. Numa mala pus as roupas e alguns objetos pessoais, o notebook, o violão
e nada mais. Enquanto esperava o taxi, para partir sem saber para onde, pensei:
vinte e cinco anos... Não haveria de suportar mais um minuto sequer ao lado de
quem despreza meus amigos mais íntimos. Percebi o carro se aproximando, comtemplei
pela última vez aquele rosto sereno e impassível, cujos olhos oblíquos nada
dissimulavam. Adeus.
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